A paisagem, natural, profundamente urbana ou mesmo utópica, é um conceito permanentemente interpelado pela prática artística de Xosé Luís Otero (Nocedo da Pena, Ourense, Galiza, Espanha, 1966). Mas da paisagem interessa-lhe apenas o fragmento, como se nele capturasse uma determinada fração de espaço e de tempo.
A sua obra constrói-se, por isso, de imagens parcelares, destroços de vivências que funcionam como lugares de esquecimento, desabitados, silenciosos, que encerram a tensão do que aí, em algum momento, parece ter acontecido.
As suas criações parecem materializar-se em múltiplas formas, muitas vezes como arquétipos de casas, colmeias ou ninhos, mas também de edifícios em ruína, cidades desabitadas ou extensos areais cobertos de algas, ao mesmo tempo que carregam referências muito concretas, apropriadas aos bosques, às atmosferas ou às paisagens marítimas da Galiza.
O desvio ao suporte do tradicional quadro pintado levam-no a amplificar a dimensão bidimensional, a conferir-lhe uma nova espessura e a combinar domínios próprios da pintura com o contexto escultórico ou na acentuada tendência para a instalação e para as montagens cenográficas.