O gosto da representação naturalista atingirá em Portugal uma expressão singular de que o Bordado de Castelo Branco como portador é caso paradigmático e onde a flora, variadíssima, é uma presença constante.
O cravo aparece como elemento dominante, espalmado ou de lado, de pétalas separadas e rebordos denteados, é flor resistente, ereta, símbolo da provocação, da virilidade.
A peónia, o lótus, o crisântemo e o botão de ameixieira, muito populares na civilização chinesa, associadas respetivamente à Primavera, Verão, Outono e Inverno, são flores que vulgarmente podem ser observadas no Bordado. A Primavera é representada também pela magnólia.
A túlipa, flor recorrente no Bordado de Castelo Branco, existia com abundância nos jardins palacianos do País, principalmente nos da corte, e sujeita a grande reserva para evitar que a sua popularização lhe retirasse o carácter aristocrático tornou-se símbolo de riqueza e ostentação.
A Árvore da Vida nos Bordados de Castelo Branco, quando ladeada pelas figuras de um homem e de uma mulher, deixa transparecer os sentidos da sobrevivência, da renovação da vida; se aparecer conjugada com o pavão evoca a Eternidade e a Ressurreição. Caracteriza-se pela existência de um elemento central, assimétrico, que emerge de um conjunto de montículos, formados por diversos ramos ondulantes, revestidos de folhagens, flores e frutos, onde pousam aves coloridas. Nestes bordados o tema tem sido tratado de forma ingénua e criatividade notável, enriquecido com uma miscelânea de motivos exóticos e outros de graciosidade peculiar, provavelmente inspirados nas aves de criação doméstica e nos frutos dos quintais beirões.
A albarrada, termo árabe que significa vaso com duas asas, é um tema frequente no Bordado de Castelo Branco, tanto com a forma de elegante vaso de perfil compósito, como taça baixa e larga. Ligada ao vaso como símbolo da fecundidade, provavelmente inspirada na temática da Árvore da Vida de cariz oriental, aparece usualmente como contentor de um vistoso ramo de flores na zona central dos bordados ou colocada nas bissetrizes dos cantos. Surge também com frequência a preencher pequenos medalhões inscritos em toda a superfície da peça.
A representação de frutos é também recorrente, com uma vasta variedade formal e, tal como na temática florística, existem situações em que dificilmente os motivos são reconhecidos. A romã aplicada ao Bordado é tida como um significado amoroso na promessa de vida abundante.
A ave com duas cabeças, com destaque para a representação da águia bicéfala, surge nos Bordados de Castelo Branco provavelmente por influência oriental. É um motivo comum nos bordados indo-portugueses, em tecidos lavrados e estampados, na talha barroca dos altares, na pintura de brutescos, nas faianças, nos trabalhos em ferro, ilustra manifestações heráldicas, ao trazer um coração trespassado por setas é alusivo à ordem de Santo Agostinho.
A duplicação da cabeça exprime o reforço da sua autoridade mais do que real, soberania verdadeiramente imperial. Na religião cristã simboliza a Ressurreição.
As figuras humanas surgem em espécimes de composição simples, isoladas ou em pares, relacionadas com os sentidos do tato, do olfato e da audição. Nas situações personificadas por uma mulher e um homem observa-se uma nítida interação entre o casal. De modelo para modelo não se verifica qualquer alteração significativa na indumentária, que mantém o gosto do século XVIII.
O coração, motivo predileto no âmbito das artes tradicionais, entre o religioso e o profano, tem-se mostrado no peito das águias bicéfalas ou em harmonia com outros elementos.
Na tradição moderna identifica-se com o amor profano, a caridade enquanto amor divino, a amizade, a retidão. A concha marca a sua presença no Bordado especialmente nos remates das molduras do medalhão central e nas bissetrizes dos cantos.
O laço serve de ornamento às molduras do medalhão central ou a atar os pés de um ou de outro ramo, sugere a obrigação querida livremente pelas diferentes partes que se sentem unidas entre si, representa a adesão voluntária.
Existe nos Bordados de Castelo Branco um revisitar de modelos. Eles servem de padrão mais de uma vez, quer ao nível da temática, do desenho ou da composição, porém, contêm sempre alguma coisa que personaliza um gosto comum. Além disso, não falta o gosto pelo detalhe, nem uma deliciosa falta de precisão botânica na forma como são concebidos os motivos da fauna e as figuras humanas. Citando Aquilino Ribeiro, «as bordadeiras de Castelo Branco construíram nas suas colchas uma flora maravilhosa e uma fauna não menos escapada da zoologia, consoante o lampejo fugaz que as coisas reais, ausentes da vista, levantam no céu estrelar da imaginação».